sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

LÁGRIMA AZUL



Adeus, amor.

Dias e dias, dores e dores

Face manchada de azul

Na lágrima seca cintilante.



UTI, PCR, VAC, NORA...

Tantas siglas pra acabar

No ermo da gaveta,

Cuja única sigla é FIM.



Disse adeus sessenta vezes

Blasfemei sessenta deuses

Quis sabotar a ampulheta

Nada serviu.

Estado crítico, outro dia melhor

(acho que era eu quem queria)

Segunda-feira assim assim

Você partiu, doce serena,

cercada de amigos.

A lágrima azul ficou em mim.



Eu não sabia que te amava tanto

Eu só sabia onde passava o vento

Que ondeava os teus cabelos

E hoje adeja o teu cimento.


Adeus, amor.

Essa lacuna

É quase dia

Eu não sabia que doía assim

Mesmo dito em poesia...

sábado, 23 de julho de 2011

ASPIRAÇÕES


Eu quero os âmbitos, os

horizontes despovoados

lugares que permitem meu coração

à utopia atender,



quero o anoitecer

sedutor da ponte inconclusa

onde demora e se esfalfa

a minha maneira de ser.



Eu quero distante, o devoluto,

os locais esquecidos

e o sentimento ermo e

pretérito do caber,



por ora restam prédios, prédios

circunvizinhos,

e vagas a se locupletarem

e se obscurecerem.



Quero a completude

acérrima dos silêncios

das pausas, quero as paixões,

porquanto me causam

espantos de mocidade

bem como os aromas.



Quero-te (e quanto mais tempo,

meu paladar se afina)

posto que me entorpeço contigo

qual numa artemísia

haja que em ti sinto o

mesmo viço de menina.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Dia das Mães - Homenagem


Obrigado!
Ácido Acetil Salicílico
Paracetamol
Ibuprofeno
Dipirona...

Se minha mãe
estivesse com enxaqueca
naquele dia...
Eu não estaria aqui.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

QUITES

Fulano!
ô! alô! psit! é o Lutano...
Não assisti teu funeral
da mesma forma, ops!
tu não assistirás ao meu.
Estamos zero a zero -
Tchau!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Qualquer Versinho


  - Fale-me acerca do coração -
diz o leitor,
como se esse tema
fosse singelo.

Do coração? - Me divirto
à larga. Logo
o leitor teima:
- Discorra sobre o coração -
sem perceber, inocente,
que este assunto
é martelo.

Dissecar o coração? - Retruco:
Qual a tua intenção? Acho
deseja me fazer andar
no arame do trapézio
sem rede em baixo!

- Não faz jogo duro... - Persevera imediato.
- Qualquer versinho.
Como se ao coração coubesse
- qualquer versinho -
feito em folha de mamão-macho.

Escreva bonito, escreva feio,
um poeminha "n'importe quoi"
- o leitor insiste, como se desconhecesse
que as coisas do coração
não vêm embrulhadas com um laço no meio.

O sujeito interrogando
eu contradizendo
posto nas searas do coração
e da poesia
qualquer verão mal avisado
é veraneio.


sexta-feira, 18 de março de 2011

Foutro e Feu

créditos: http://br.olhares.com/sol_poente_foto1734350.html


Tem um outro alguém morando em mim
Que é exatamente o meu avesso:
Trabalho todos os dias, o outro é à toa
Tenho meus limites, o outro é espaçoso
Trato bem o amor, o outro engana bem
Não perturbo ninguém, o outro é um saco
Sou interessante, o outro é babaca
Bebo socialmente, o outro é alcoólatra
Só faço sexo seguro, o outro não se segura
Sou poeta, ele poente
Aquele que me faz irado e descontente
Sempre foutro, nunca feu.


OBS: Essa poesia foi musicada pela “BANDA MANOA”
Canção disponível em: http://palcomp3.com/manoa/
 

quarta-feira, 2 de março de 2011

Léxico da Cachaça


 
“Cachorro que morde o dono
Mulher que erra uma vez
Homem que toma cachaça
Não há remédio pros três”

Verbete: Cachaça

ABRE, ABRIDEIRA, ACA, AÇO, A-DO-Ó, ÁGUA-BENTA, ÁGUA-BRUTA, ÁGUA-DE-BRIGA, ÁGUA-DE-CANA, ÁGUA-QUE-PASSARINHO-NÃO-BEBE, AGUARDENTE, AGUARRÁS, ALPISTA, ANINHA, ARREBENTA-PEITO, ASSOVIO-DE-COBRA, AZULADINHA, BAGACEIRA, BARONESA, BICHA, BICO, BIRITA, BOA, BORESCA, BRANCA, BRANQUINHA, BRASA, BRASILEIRA, CAIANA, CALIBRINA, CAMBRAIA, CANA, CÂNDIDA, CANGUARA, CANHA, CANINHA, CANJEBRINA, CANJICA, CAPOTE-DE-POBRE, CATUTA, CAXARAMBA, CAXIRI, COBREIRA, COTRÉIA, CUMBE, CUMULAIA, DANADA, DELAS-FRIAS, DENGOSA,  DESMANCHA-SAMBA, DINDINHA, DONA-BRANCA, ELA, ELIXIR,  ENGASGA-GATO, ESPÍRITO, ESQUENTA-POR-DENTRO, FILHA-DO-SENHOR-DE-ENGENHO, FRUTA, GÁS, GIRGOLINA, GORÓ, GRAMÁTICA, GUAMPA, HOMEOPATIA, IMACULADA, JÁ-COMEÇA, JANUÁRIA, JERIBITA, JINJIBIRRA, JUNÇA, JURA, LEGUME, LIMPA, LINDINHA-LISA, MACANGANA, MALUNGA, MALVADA, MAMÃE-DE-ALUANA, MAMÃE-SACODE, MANDRUREBA, MARAFO, MARIA-BRANCA, MATA-BICHO, MEU-CONSOLO, MISCORETE, MOÇA-BRANCA, MORRÃO,  NÃO-SEI-QUÊ, ÓLEO, OROTANJE, OTIM, PANETE, PARATI, PATRÍCIA, PERIGOSA, PEVIDE, PILÓIA, PINGA, PIRITIBA, PREGO, PORONGO, PURA, PURINHA, QUEBRA-GOELA, QUEBRA-MUNHECA, RAMA, REMÉDIO, RESTILO, RETRÓS, ROXO-FORTE, SAMBA, SETE-VIRTUDES, SINHANINHA, SINHAZINHA, SÍPIA, SIÚBA, SUOR-DE-ALAMBIQUE, SUPUPARA, TAFIÁ, TEIMOSA, TEREBINTINA, TIRA-TEIMA, TIÚBA, TOME-JUSTO, TRÊS-MARTELOS, UCA, VENENO, XINAPRE, ZUNINGA. 

Cachaça, Patrimônio Público Brasileiro
Deve ser tomada...tombada...ih!...
tombei.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Natênus

Era a jovem preciosa.

Com sua anágua sua sodomia
Seu mau crepúsculo, seus diabos
Seu passo insolente, seu cabelo negro
Alcatra redonda tão afogueada
Sua ostentação seu pedido de socorro
Mais seus olhos urgentes.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Manhã Manchada de Domingo

Colado ao bom ímã
da cadeira
como um cicio
te ouvi
Colada ao meu lado
como goma de mascar.

Foi como uma manhã
manchada de domingo
eu e teu corpo
na união das notas
um sustenido alegre
entre dó e ré
-Pois é!

sábado, 29 de janeiro de 2011

Nunca Se Está Só


Há fungos nas minhas unhas
Traças nos livros da estante
Corpos estranhos no meu plasma
Bactérias por todo ambiente
E a lembrança tua viva
Na minha mente.

BURLETA

eu rumo
tu "home"
ele rima

nós remamos
nossa sobre
vida.

ATITUDE

As pessoas estão aí
diariamente
a me exigir uma postura:
clientes, filhos, dona Maria.
E eu aqui
levianamente
a escrever poesia.

Apneia Lúdica


soltei meu blenny no mar
e ele partiu como um agulhão arrojado
migrando contra o novelo das algas

voltou um tempo depois
balançando a cauda, todo alegrinho...

tinha encontrado em águas profundas
as gretas matizadas nos búzios de vários mexilhões



ANÚNCIOS (DES)CLASSIFICADOS


Doa-se

um coração arranhado
ainda em bom estado
precisando de reparos.


Recompensa-se

a quem denunciar
aquele que roubou
meu primeiro amor.


Precisa-se

de mulher menina
de menina mulher
de amor adrenalina.


Admite-se

moça grafiteira
boa de "spray"
pr'a pichar meu coração.



Doa-se

rima impossível
em verso urbano
poesia Lutano.