segunda-feira, 29 de outubro de 2012

"HOMENINO"


Sou um homem maduro

Que às vezes brinca de gude

Sou um menino picha muro

Que às vezes usa gravata

Sou um homem que se aplaude...

Um menino que se ilude.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

PSEUDOBIOGRAFIA LITERÁRIA


 
Para aqueles que não sabem, nasci em 1955. Outros números não são necessários. Minha história de vida literária não deve ser afligida por algarismos. As façanhas não têm tempo, não têm estreia nem termo. E meus poemas são façanhas; para mim são minha maior façanha. Compondo revelo sempre um novo pedaço de infinito e ergo meu canto de voz solitária e plural. Na verdade, um léxico apenas não me parece suficiente, por isso gostaria de ser um pássaro vivendo no céu do Rio de Janeiro. O pássaro nasce para ser conhecedor das causas primárias e elementares, pois para ele todo vento é ventania, um ar movimentado de sabedoria, não importa sua idade. Gostaria de ser um pássaro porque amo as grandes montanhas, zênites das almas humanas. Em suas bases são muito urbanas e vivazes, mas nas alturas são serenas e solitárias como o sofrimento dos homens. Amo, igualmente, um pormenor das grandes montanhas: sua vida futura. Isso mesmo, montanha é um vocábulo mágico para associar eternidade. Mas não me tenha por louco ou santidade!

Prefiro não falar da minha puerícia. Época de boas lembranças e esconderijos, mas sempre com os adultos aborrecendo, ingerindo, deteriorando os regozijos. Nos tempos de menino havia gente grande em demasia, todos, mesmo os mais estremecidos, censuravam-me à moda de toletes... tolhendo. Fui amoroso e amotinador, então. Gostava de estudar na clausura e recrear literatura. Entretanto, as coisas melhoraram mesmo na sedução do isolamento, com a possibilidade de cerrar as portas, papel e pena sobre a mesa e conceber estórias, poemas, prosas, denunciando pessoas do meu dia a dia como protagonistas, mesclando fatos vividos e imaginados.

Então virei médico veterinário, poeta e amante. Inferem-se fases essenciais de minha trajetória e, por sua vez, essa sequência estabelece um paradoxo. Como médico dos animais tive a noção do amor puro; como poeta, a noção do amor nascituro; como amante, a noção do amor burro.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

LILÁS

 
Certa vez,
meu amor decorou todo ambiente
de um lilás solitário.
Dias e dias vivi num apartamento
assim...
continuamente anoitecendo.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

QUATRO SUJEITOS


Os idealistas ideiam seus ideais,

sobre as ideias

para as ideias

sobre as quais não têm a menor ideia.

 

Os incrédulos carecem de convencimento

crer ou não crer?...

interrogação.

 

Os enrustidos não assumem condição,

nem saem da gaveta

Freud sinaliza: decúbito -

“uma saída negativa do Complexo de Édipo”.

 

Os amantes,

esses deitam e rolam

no planeta.

 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

AMOR-PERFEITO

  

Fui ao horto:

violetas, açucenas, orquídeas, begônias

tulipas, camélias, hibiscos,  magnólias

elegantes e perfumadas

mas achava que faltava alguma

não sabia qual

nunca fui bom nisso!

Arrisquei amor-perfeito

procurei na Florália, na Marabaia

qualquer quiosque

eu busquei,

então parei de me enganar

e concluí: essa  flor

não existe...