sábado, 29 de janeiro de 2011

ATITUDE

As pessoas estão aí
diariamente
a me exigir uma postura:
clientes, filhos, dona Maria.
E eu aqui
levianamente
a escrever poesia.

Apneia Lúdica


soltei meu blenny no mar
e ele partiu como um agulhão arrojado
migrando contra o novelo das algas

voltou um tempo depois
balançando a cauda, todo alegrinho...

tinha encontrado em águas profundas
as gretas matizadas nos búzios de vários mexilhões



ANÚNCIOS (DES)CLASSIFICADOS


Doa-se

um coração arranhado
ainda em bom estado
precisando de reparos.


Recompensa-se

a quem denunciar
aquele que roubou
meu primeiro amor.


Precisa-se

de mulher menina
de menina mulher
de amor adrenalina.


Admite-se

moça grafiteira
boa de "spray"
pr'a pichar meu coração.



Doa-se

rima impossível
em verso urbano
poesia Lutano.


quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

OFICINA

Crédito: http://fenix-under.blogspot.com/2008_12_01_archive.html
 

Esculpo sua imagem plástica
em relevo total

Não existe coifa, bosquejo ou croqui.
Muito menos ela percebe

Da mesma forma não lhe brindarei a composição
(como sempre interina)

Apesar disso há movimento!

Saliente-se a argila das ancas
Mãos e joelhos em tetrápode
As aréolas investem sobre montanhas

Minha mente cinzela estéril.

 

sábado, 18 de dezembro de 2010

PENSAMENTO

O pensamento tem
processo
molde
planos
ideia
vontade
asas
raízes
profundidade
dúvidas
ódio
imagem
consciência
essência
química
latência
planos
algoritmo
sobrenome
código
abstração
fugas
incoerência
aedo
o pensamento não tem soss(ego)

sábado, 20 de novembro de 2010

ENLEIO



ENLEIO

A casa, o covil. Local de abate. Os acadêmicos vivendo para o embate, para o recreio, para as tragadas. Dúvidas e dúvidas, soluções, soluções, conversas de almas, estradas, rezas, seminários, velórios, campanhas de vacinação, trilhos de trem, mandacaru, quermesses, ar viciado, aquários e refletores, vitrola inclinada, biséis, colchões, tilintar de vidros, transes e baforadas soltas pelas janelas, estendendo, rumo aos céus, o intervalo-tempo vertical da casa. Rosa, decotada, vestida de rosa, os pelos negros molhados, traz no sorriso a metáfora da grande sacerdotisa. Por todos os lados, adornando-lhe o corpo, mistérios, e tantos desejos contidos que quase parecem sonhos (ou tristonhos?...). Estendi o tapete vermelho sobre a lama da rua. Os acúleos afiados, no corpo do cactos, pareciam costado ao vento, encastoavam-se firmes em Rosa. No interior do quarto, num colchão sanhudo, a dinâmica de grupo da vida real. O sol de setembro não saiu por completo, alguma nesga de madrugada resta no quintal. Ainda consigo sentir o gosto de Rosa, menta-corola; olhos probos negros, como jamais vi, meio cordeiro meio raposa. Bilhas de hematita. (...) Feliz por qualquer motivo, presença constante, sonhada, as pernas vivas.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

EFEITO ROSA PELE

No quarto
o faro aguça
elegante nuca
de boa anca
e esmiúça à vontade:
puro quilate

Beijo no peito
(leito)
desejo satisfeito

Carne machuca
Rosa pele
argila quentura
escultura