- Fale-me acerca do coração -
diz o leitor,
como se esse tema
fosse singelo.
Do coração? - Me divirto
à larga. Logo
o leitor teima:
- Discorra sobre o coração -
sem perceber, inocente,
que este assunto
é martelo.
Dissecar o coração? - Retruco:
Qual a tua intenção? Acho
deseja me fazer andar
no arame do trapézio
sem rede em baixo!
- Não faz jogo duro... - Persevera imediato.
- Qualquer versinho.
Como se ao coração coubesse
- qualquer versinho -
feito em folha de mamão-macho.
Escreva bonito, escreva feio,
um poeminha "n'importe quoi"
- o leitor insiste, como se desconhecesse
que as coisas do coração
não vêm embrulhadas com um laço no meio.
O sujeito interrogando
eu contradizendo
posto nas searas do coração
e da poesia
qualquer verão mal avisado
é veraneio.